
"Bem-aventurados os que trabalham pela paz, porque eles serão chamados filhos de Deus"(Mt 5,9).”
Fotografias representam lembranças vivas de pessoas, lugares...Várias fases de nós mesmos, com elas guardamos para sempre alguns capítulos de nossas vidas.
Publicada em 04/07/2008 às 15h26m
O GloboRIO - O Ministério Público Federal enviou uma recomendação ao Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (Hospital do Fundão) para que os pacientes na fila de transplantes de fígado da instituição sejam encaminhados para o Hospital Geral de Bonsucesso (HGB). Mais da metade das 1.114 pessoas na fila à espera de um transplante de fígado estão sem qualquer esperança de fazer a cirurgia. O Fundão, que possui hoje 622 pacientes precisando do órgão (os demais estão na fila do Hospital Geral de Bonsucesso), interrompeu esse tipo de procedimento no dia 7 de abril. Desde então, cinco doentes que aguardavam a vez para ganhar um novo fígado já morreram.
Os procuradores da República Roberta Trajano e Daniel Prazeres, autores da recomendação, ainda ressaltaram que a instituição deve iniciar o encaminhamento pelos pacientes em estado mais grave na ordem da lista única de transplantes. Já a Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos ficará responsável pelo recebimento de cópias dos prontuários médicos e, após a autorização formal do pacientes, deverá encaminhá-los ao HGB.
A atuação dos procuradores é resultado de apurações iniciadas através da Ong Dohe-fígado que noticiou ao MPF a ausência de informações aos pacientes do Hospital do Fundão quanto à paralisação dos transplantes de fígado. A recomendação é um instrumento usado por procuradores da República para defender o interesse público antes de recorrer a um processo judicial.
Depois de terem feito uma manifestação na porta do hospital, na última terça-feira, os pacientes e seus familiares resolveram apelar para a Justiça e entraram com várias ações pedindo a reabertura da unidade. Segundo o advogado Manoel Peixinho, já houve uma vitória parcial: uma liminar da 16ª Vara Federal determinou na quarta-feira a transferência de um doente, que não conseguiu ser internado no Fundão e está em coma no Hospital da PM de Niterói, para a Clínica São Vicente, na Gávea. A liminar determinaria ainda que a União custeie o custo da internação e que o transplante de Ricardo Pacheco, de 68 anos, seja feito na unidade particular, assim que ele tiver condições de receber um novo fígado.
Nesta sexta-feira, os funcionários que fazem parte do corpo social do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ) divulgaram uma nota em resposta às declarações sobre a crise do Fundão dadas recentemente à imprensa por autoridades públicas. De acordo com o documento, não é verdade que o Ministério da Saúde tenha dobrado os recursos enviados ao HUCFF. Ainda de acordo com a nota, a carência de recursos e a preocupação com a segurança dos pacientes teria obrigado o hospital a reduzir progressivamente o atendimento.Fundão não faz mais transplantes | ![]() | ![]() | ![]() |
Mais da metade das 1.114 pessoas na fila à espera de um transplante de fígado estão sem qualquer esperança de fazer a cirurgia. O Hospital do Fundão, onde há 622 pacientes precisando do órgão (os demais estão na fila do Hospital Geral de Bonsucesso), interrompeu esse tipo de procedimento no dia 7 de abril. Desde então, cinco doentes que aguardavam a vez para ganhar um novo fígado já morreram.
Depois de terem feito uma manifestação na porta do hospital, na última terça-feira, os pacientes e seu familiares resolveram apelar para a Justiça e entraram com várias ações pedindo a reabertura da unidade. Segundo o advogado Manoel Peixinho, já houve uma vitória parcial: uma liminar da 16oVara Federal determinou ontem à noite a transferência de um doente, que não conseguiu ser internado no Fundão e está em coma no Hospital da PM de Niterói, para a Clínica São Vicente, na Gávea.
A liminar determinaria ainda que a União custeie o custo da internação e que o transplante de Ricardo Pacheco, de 68 anos, seja feito na unidade particular, assim que ele tiver condições de receber um novo fígado.
Filha de uma das doentes que estão na fila do Fundão, num dos primeiros lugares para transplantar, Ana Lucia de Castro também entrou ontem com ação no Ministério Público para pedir a reabertura da unidade: - Estamos em completo desespero.
Falta de insumos parou cirurgias complexas
Diretor de unidade diz que situação volta ao normal em uma semana
Pacientes que estão na fila para um transplante no Fundão dizem que a situação do hospital é caótica, e não apenas para quem aguarda a chance de conseguir a cirurgia. Doentes em situação grave também sofrem quando são internados: faltam remédios, gaze e seringas, e exames fundamentais para doentes hepáticos não estão sendo feitos.
O diretor do hospital, Alexandre Cardoso, reconhece os problemas e diz que, justamente por causa deles, suspendeu cirurgias complexas: - Desde 2004, não temos reajustes nos valores pagos por nossos procedimentos e, por isso, vínhamos tendo dificuldades para manter o estoque. Chegamos a uma situação em que achamos melhor suspender as cirurgias complexas porque não tínhamos como garantir a qualidade do atendimento.
De acordo com o médico, o hospital recebe R$ 4,3 milhões mensais do Ministério da Saúde, mas gasta R$ 1,3 milhão com o pagamento de pessoal extra, o que teria contribuído para o desabastecimento.
Há 15 dias, o Ministério da Educação resolveu repassar R$ 6 milhões para pagamento de pessoal.
- Com isso, vai ter sobra para retomarmos as cirurgias - diz Alexandre, prevendo que novos transplantes sejam possíveis em uma semana.
Médico que chefiou a central de transplantes do Rio de Janeiro
é preso, acusado de burlar a ordem das cirurgias de fígado.
O caso mostra que é urgente apertar a fiscalização e dar
transparência ao sistema de captação e doação de órgãos.
DUPLA AÇÃO Joaquim Ribeiro chefiou por quatro anos a central de transplantes e a equipe que realizava cirurgias na UFRJ: poder demais e controle de menos.
O médico Joaquim Ribeiro Filho foi acordado e preso em sua casa, na quarta-feira passada, no Rio de Janeiro, por uma operação da Polícia Federal. Com mestrado e doutorado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ele comandou, até setembro passado, a equipe de transplantes hepáticos do Hospital Clementino Fraga Filho, da UFRJ. Entre julho de 2003 e março de 2007, acumulou esse cargo com o de coordenador da central estadual de transplantes, responsável por controlar a inscrição na lista de espera de quem precisa de um órgão e por designar as doações de acordo com prioridades regulamentadas pelo Ministério da Saúde. São dois dos cargos mais importantes que um profissional especializado em transplantes pode ocupar no estado. Exatamente por isso é tão grave a acusação que pesa sobre Ribeiro. Depois de cinco anos de investigação pela PF, o médico foi denunciado pelo Ministério Público Federal, acusado de desvio de órgãos para favorecer pacientes inscritos na fila de espera por um fígado. Ribeiro foi recolhido ao presídio de Bangu 8. Outros quatro médicos de sua equipe, também denunciados, estão em liberdade.
Há ainda denúncias de que os pacientes beneficiados desembolsaram até 250 000 reais. Não existe prova de que o médico tenha recebido propina. Os casos que envolvem pagamento são de cirurgias realizadas ou programadas para a Clínica São Vicente, uma das mais conceituadas e caras do Rio. As quantias podem, então, incluir as despesas com hospital. É algo que só o curso da investigação poderá dizer. O que se pode afirmar até agora é que o médico se transformou numa espécie de dono do sistema de transplantes de fígado no Rio, onde existem apenas três equipes credenciadas para esse tipo de cirurgia. Em resumo, o trabalho de Ribeiro na UFRJ era fiscalizado por um órgão que tinha ele próprio no comando – uma situação não recomendada em qualquer área. Tornou-se ainda mais complicada por ter à frente um profissional que compra brigas. "Ele tem uma personalidade combativa, mas sempre cumpriu as regras", diz a advogada de Ribeiro, Simone Kamenetz. Uma conversa telefônica interceptada pela PF mostra quanto esse limite é tênue. Nela, um hepatologista da UFRJ define o médico da seguinte forma: "Ele acha que é o dono do órgão, não quer respeitar a fila, quer dar a quem ele acha que merece mais". Eleger por conta própria quem deve ser beneficiado na luta pela vida é brincar de Deus. A denúncia do MP indica que, ao menos três vezes, Ribeiro teria agido dessa forma. Outros dez casos foram apurados pela polícia e, depois que o escândalo veio à tona, mais denúncias surgiram.
A espera por um transplante é uma situação que envolve pacientes muitas vezes à beira da morte. Para agravar a aflição, as filas obedecem a critérios complexos. Consideram fatores genéticos, idade e peso para identificar a compatibilidade entre doador e receptor. No caso da distribuição de fígados, a regra mudou em 2006. Deixou de ser cronológica para levar em conta a gravidade do estado de cada paciente, determinada por uma combinação de exames chamada Meld, também utilizada nos Estados Unidos. A única maneira de dar um mínimo de tranqüilidade a quem espera é trabalhar com absoluta transparência. Essa é uma das precariedades do sistema nacional de transplantes e, no Rio de Janeiro, chegou às raias do absurdo. Na semana passada, a Secretaria Estadual de Saúde admitiu que até hoje – Ribeiro foi afastado da coordenação de transplantes em março do ano passado – o ranking de espera por um fígado tem pacientes duplicados, doentes sem exame em dia, mortos e pessoas já transplantadas. Um relatório do Departamento Nacional de Auditoria do SUS constatou também a existência de uma lista paralela na gestão de Ribeiro. É um campo fértil para fraudes.
Ribeiro é acusado de manipular informações sobre o estado dos órgãos doados ou de pacientes. Em julho de 2003, dias depois de assumir a coordenação da central de transplantes, ele implantou um fígado no 32° paciente da lista, Jaime Ariston – irmão do então secretário estadual de Transportes, Augusto Ariston. Para isso, classificou o órgão doado de "marginal", ou seja: no limite de apresentar risco ao receptor. Assim, desobrigou-se de oferecê-lo aos primeiros da fila, numa prática condenada pelo Ministério da Saúde. "A classificação e o procedimento não existem. Esses órgãos precisariam ser oferecidos à lista", diz o diretor do Departamento de Atenção Especializada do ministério, Alberto Beltrame.
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