O Ministério Público Federal instaurou procedimento administrativo para apurar “notícias de inversão de ordem de prioridade na lista de transplantes hepáticos do Rio”. Um dos alvos da investigação é a proporção entre o número de procedimentos realizados em cada uma das 4 unidades transplantadoras de fígado e as respectivas quantidades de doentes inscritos.
Com 472 pacientes hoje na fila única de transplantes, o Hospital Geral de Bonsucesso operou apenas 13 esse ano. Na Clínica São Vicente, na Gávea, 6 dos que estavam na fila foram transplantados desde janeiro. Restam agora outros 6 à espera, inscritos pela unidade particular, segundo a Secretaria Estadual de Saúde.
A diferença de proporção é ainda maior no Hospital Clementino Fraga Filho (Fundão), que suspendeu os transplantes de fígado em abril. Com 622 cadastrados, a unidade transplantou 7 desde o início do ano. Já o Hospital Municipal São José do Avaí, de Itaperuna, fez dois transplantes desde janeiro, e tem hoje 14 pessoas na fila.
“Alguns transplantados na São Vicente conseguem o fígado por liminar. E a Central Estadual tem que cumprir a ordem judiciária. Isso não pode virar regra, caso contrário todo paciente que entrar na Justiça vai ser beneficiado”, disse a superintendente de Atenção Especializada da Secretaria Estadual de Saúde e Defesa Civil, Hellen Miyamoto.
Segundo ela, outro fator que beneficia os pacientes da rede privada é o acesso a exames para determinar a gravidade de cada caso. Um padrão chamado ‘escala Meld’ mede o estado de cada pessoa e, quanto mais delicado, maior a chance de se conseguir o transplante. “Um paciente que faz tratamento privado faz exame até semanalmente. Já na rede pública pode fazer de dois em dois meses”, explica. Por isso, as informações dos pacientes da rede privada podem estar mais atualizadas. Segundo o estado, nos últimos dois anos quatro pessoas que não eram as primeiras da lista única foram beneficiadas com liminares para transplante de fígado. “Geralmente, o médico dá um laudo dizendo que ele corre risco de vida para que a família recorra à Justiça. Mas há muitos outros pacientes graves na lista. Quando um juiz dá uma liminar no plantão, ele não avalia outros que podem estar mais graves. Quando o pedido é feito à noite ou no fim de semana, a gente não consegue reverter. E quando o transplante é feito, a gente não tem o que fazer”, diz, acrescentando que nos últimos meses alguns juízes têm consultado a Câmara Técnica de Fígado.
A assessoria de imprensa da São Vicente afirmou que nos casos de transplantes as liminares não passam pela unidade. Afirma ainda que é credenciada para a realização de transplante hepático, mas que apenas disponibiliza leitos para que os pacientes sejam transplantados pelas duas equipes credenciadas para fazer esse tipo de cirurgia no Rio — a do Hospital Geral de Bonsucesso e a do Fundão.
CIRURGIAS PARADAS E 5 MORTOSO Hospital Clementino Fraga Filho (Fundão) suspendeu todos os transplantes e procedimentos de alta complexidade em maio. Antes, em abril, a unidade já interrompera a realização de transplantes de fígado, segundo a direção devido à falta de equipe credenciada para esse tipo de procedimento. No mês de maio, como O DIA noticiou terça-feira, 5 pacientes morreram.
As mais de 600 pessoas na fila para receber um órgão esperam preocupadas pelo credenciamento de novo grupo de médicos, o que segundo o Fundão ocorrerá até sexta-feira. Além dos transplantes, o Fundão suspendeu consultas e exames. Pacientes submetidos a transplante de fígado contam que estão há meses sem exames fundamentais.
“Fiz transplante há um ano, depois de dez anos na fila. Vim de Teresópolis e não consegui fazer nenhum dos exames de acompanhamento”, disse terça-feira Gecilene de Jesus Souza, 38 anos.
PACIENTE NA FILA PELO FUNDÃO ENTRA EM COMAHá quatro anos na fila de transplantes do Hospital Clementino Fraga Filho, o aposentado Ricardo Pacheco, 68 anos, entrou em coma e precisou ser transferido para o Centro de Tratamento Intensivo do Hospital da Polícia Militar, em Niterói, onde está internado há dias. Inconformada, Márcia Pacheco, 40 anos, conta que seu pai já poderia estar livre do problema de saúde desde março.
“Estou em desespero. Meu pai é um dos primeiros na fila. Em março, o fígado que iria para ele foi transplantado em outra pessoa que obteve uma liminar. Agora, ele está gravíssimo. Quero que a Justiça agora consiga um fígado para ele”, diz Márcia. “Vou entrar com um pedido de liminar também. Não quero que meu pai, há 4 anos na fila, morra sem ter chance”, diz ela.
Márcia, que chorou terça-feira na manifestação que pacientes do Fundão fizeram contra a paralisação dos transplantes, torce pela melhora do pai para que possa ser operado.
Bonsucesso atua no limiteO Hospital Geral de Bonsucesso (HGB) tem projeto de criação de unidade de cuidado integral do paciente transplantado, que tem como meta a realização de 75 transplantes hepáticos anuais. Segundo relatório da direção do HGB, a unidade trabalha no limite de sua capacidade atualmente. Apesar disso, poderá receber os pacientes do Fundão que ocupam as primeiras posições na fila única.
Esses doentes devem pedir a transferência de unidade transplantadora sem perder seu lugar na fila. De acordo com o Ministério da Saúde, eles podem buscar informações na Secretaria de Transplantes Hepáticos, de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 16h. O setor fica no 2º andar do prédio 3 do HGB, na Avenida Londres 616. Mais informações no (21) 3977-9500.
Ontem, a presidente do Cremerj, Márcia Rosa de Araújo, afirmou que a entidade vai promover um debate entre os diretores de unidades como Fundão, Gaffreé Guinle, Antônio Pedro e Pedro Ernesto; gestores das três esferas e representantes dos ministérios da Saúde e da Educação. A intenção é buscar soluções para evitar, segundo Márcia, que mais pacientes morram, não só na fila do Fundão.____________________________________________
4 comentários:
Leila,
sinto muito pela perda do seu pai.
Acompanhei de perto o caso do Dr. Joaquim Ribeiro Filho.
Caso queira conhecer um outro lado dessa história, eu indicaria:
http://transplantevida.blogspot.com
Minha sugestão: leia "Os depoimentos" ou "perguntas sem respostas"
Você encontrará pessoas com dramas semelhantes aos seus e verá que pessoas honestas ficaram muito indignadas com o que aconteceu com o médico.
Não sei em que isto pode ajudar, mas achei melhor escrever.
Você acompanhou de perto o caso do médico????
E o do meu pai você também acompanhou? De Dona Vanda ? Da Eliana? e de inúmeras pessoas que se foram naquela época?
Pois é... De certo você não sabe o drama que meu pai viveu na mão do DEUS Joaquim Ribeiro! Lá no Fundão era assim que os pacientes da fila dos transplantes hepáticos os chamavam... A arrogância dele era terrível. Se sentia o dono das vidas. Só que em vários casos ele foi o responsável por inúmeras mortes. Meu pai ficou 4 anos na fila foi definhando... O meld dele ficou por mais de um ano com o nível de urgência para operação e todas as vezes que foi chamado para a cirurgia se deparava com mandados de segurança, ou histórias de que a família do doador havia doado todos os órgãos exceto o fígado... Acredite anônimo!
Você não sabe o que foi ver nos olhos do meu pai a esperança todas as vezes que a Sandra enfermeira chefe na epóca ligava para nossa casa dizendo: Hoje é o seu dia de transplantar! E quando chegávamos lá mandavam meu pai voltar com as desculpas mais estapafúrdias imagináveis.
O que eu espero:
Que as autoridades competentes investiguem quais foram os motivos reais do cancelamento por 6 (seis) vezes no período de 1 (um) ano do transplante do meu pai. Que descubram para onde foram os 6 (seis) fígados captados? Como isso aconteceu? Como que as famílias dos pacientes das clínicas particulares (Hospital São Vicente na Gávea) tinham acesso a informações de possíveis doadores de órgãos em potencial e com tal informação entravam com pedido de liminar a ponto de tirar meu pai de dentro do HUCFF já sendo preparado para os exames pré-operatórios para o transplante. A JUSTIÇA UM DIA TEM QUE SER FEITA!!!!!!!
O outro lado da história não foi vivido por nossa família.
É isso que tenho a dizer.
Leila Pacheco filha de Ricardo Pacheco.
Leila,
Li com respeito e pesar o seu blog. Não sei o que foi ver nos olhos do seu pai a esperança. Não sei como foi essa mesma esperança para Lilia Borges (liminar no Fundão - falecida) ou Jânia Gomes (fígado jogado no lixo na passagem de ano)... Este é o seu blog e não cabe a mim importuná-la mais com comentários além daquele que fiz. Peço desculpas se a ofendi ou a memória de seu pai.
Leila, no seu blog há imagens e reportagens tendenciosas a respeito do médico que se dedicou ao serviço de transplante. Curioso é que não há nenhuma reportagem sobre os políticos Sérgio Cortez e Sergio Cabral que se dedicaram em destruir esse serviço e hoje estão bilionários as custas do dinheiro desviado da saúde. É muito mais fácil culpar o médico sem saber realmente o que acontece. Se o seu pai faleceu com certeza não foi pela culpa de quem se dedicou a aprender e a ensinar técnica cirúrgica do transplante e medicina.
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